terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Papai Noel de verdade!



Uma história de Natal
Publicado originalmente em 20 de novembro de 2011, no Facebook



Desde que me lembro, tenho tratado o Natal com certo ceticismo. Um dos primeiro episódios de Natal de que minha memória alcança está relacionado a um pequeno avião teco-teco azul  de cordas que ganhei dos meus pais um pouco antes do Natal, mas que valia para ele: eu brincava com meu aviãozinho pelo chão vermelho da sala (é claro que ele não voava), enquanto minha irmã brincava com sei lá o que ela tinha ganhado; brincadeira vai, brincadeira vem, ela comentou comigo que o seu presente havia sido deixado pelo Papai Noel, então entrou em ação todo o ceticismo de irmão-mais-velho que eu podia ajuntar aos sete anos de idade em minhas afirmações e sapequei logo que essa coisa de Papai Noel não existe; a partir daí, talvez a minha imaginação tenha inventado ou tenha mesmo acontecido, não posso afirmar, minha mãe, após lançar olhar a um só tempo sério e grave em minha direção, resgatou ou tentou resgatar, não sei com que sucesso, a fé da minha irmã no bondoso velhinho. Posso afirmar com certeza que a história do homem de vermelho que distribuía presentes nunca suscitou em mim grande credibilidade enquanto criança: desde que me lembro, duvido dessa história.

               Acredito que crianças que um dia tenham acreditado nessa, e na maioria das outras histórias que se conta para crianças, as boas e as más, envelhece de forma mais decidida. Às vezes o mundo adulto reluta em tentar me convencer da sua seriedade. Um dos episódios que ilustra o que acabo de afirmar aconteceu há cerca de um ano. Eu e a Sílvia, usando e abusando da novidade de morar perto do Paraguai, fomos a Pedro Juan Caballero a fim de comprar alguns presentes de Natal para os sobrinhos. Pesquisamos, escolhemos, compramos aquilo que considerávamos uma pechincha e, uma vez cumpridas as obrigações consumistas, os presentes devidamente acomodados no porta-malas do carro, voltamos à loja para um almoço breve, antes de voltarmos para a estrada – esses dias de compras podem ser muito corridos. Quando voltamos para a praça de alimentação, para a minha surpresa, estava o santo que tinha sido alvo das minhas blasfêmias sentado, todo de vermelho, com seu uniforme vermelho oficial, comendo com alguma urgência o seu almoço terrivelmente real. Seu rosto severo, velho, talvez até mesmo triste, debruçado sobre o prato, concentrado na refeição; suas mãos velhas, mas firmes, conduziam com uma veracidade infalível o garfo por entre sua branca e natural barba. Enquanto estive ali, observando aquele velho, seu almoço foi interrompido apenas uma vez por uma pai que cedeu aos pedidos do filho para bater uma foto com o velho Noel, que posava sem muita alegria, mas disposto e educado; acho que ele pediu um chope antes de sair. Por todas essas coisas, a velhice real, a barba verdadeira, a tristeza íntima, a cerveja após a refeição, foi que aquela figura me pareceu bastante verossímil. Tive a impressão de estar, por alguns instantes, diante do Papai Noel verdadeiro. O Papai Noel que a minha infância nunca me mostrou.

               Sabe, não vi o momento em que ele se levantou para ir embora, apenas observei o seu lugar vazio depois. Aquele foi o momento mais onírico de um dia que tinha sido, até então, terrivelmente real, e que continuou insuportavelmente real, depois. Um interlúdio poético de uma peça extremamente séria que contradizia a realidade; um fantasma de um sonho alheio que visitou a minha vida banal: um hiato na realidade de um ano inteiro.  A minha infância me visitou ali?

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Homem Pássaro - 2


O HOMEM PÁSSARO

 Um dia ele acordou e estava exatamente como na noite anterior. Ele não teve dúvidas, fez o que qualquer pessoa faria, costurou um bico em seu próprio rosto. Só assim ele conseguiu ser ele mesmo.