segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Tróia


Essa noite eu sonhei que a Tróia estava voltando a ser filhote, e que por causa disso eu não precisava mais me preocupar com os seus comprimidos. Ela estava se tornando pequena demais para seus grandes comprimidos.

Pois então, eu sonhei que ela estava voltando a ser filhote e que tudo ia ficar bem. Que a sua doença fazia com que voltasse a ser filhote e começar tudo novamente: leite e pires; vacinas; passeios. Tudo estava bem antes de acordar.

Oh, minha amiga! Quero voltar e ver como estão as coisas, quando elas vão bem.
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"O engraçado dessa história é que, quando ela chega ao final,
ela cai dentro de um buraco e volta para o seu começo."
(trecho do filme Lúcia e o Sexo)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009


Onde há vida


E às vezes eu acho que sempre pensaremos que haja alguma coisa por fazer, que as coisas andam sempre inacabadas, e que não se fez tudo que poderia ter sido feito para aproveitar o presente da vida. Talvez seja assim com todos os homens nesse mundo. Essa tristeza estranha de uma felicidade inacabada de um final de semana que foi bom. Que foi apenas bom. Que poderia se ter visitado os amigos só para fazê-los lembrar que você ainda os ama e que é feliz ao lado deles.

E talvez eu seja feliz com meus amigos, e acho que seja possível que só precise deles. Só preciso de alguém que possa compreender perfeitamente a minha imensa tristeza de estar só nesse mundo. O mundo é um lugar extremamente solitário, porque só nós mesmos estamos dentro da janela de nossos olhos, e há tanta vida correndo dentro de cada veia. Ah, e o cérebro! O que dizer do cérebro? Esse emaranhado de ligações sinápticas, um conjunto de eventos químicos que nos atira nesse multiverso confuso que é o mundo: uma confusão de vidas individuais se cruzando pelas ruas; topando-se nas esquinas, desavisados, idiossincráticos. São quase sete bilhões de universos somente nesse mundo? Quem sabe seja até mais, pois não sei dizer dos outros animais.

Talvez só procuremos por algo perfeito: o final de semana perfeito; o amor perfeito; aquela curva perfeita que a vida teima em não dar. E, no final, quem sabe, sempre pensaremos que deixamos algo por fazer, alguma coisa por dizer, e a vida terminando, apressando-nos a dizer a frase perfeita para compensar aquele final de semana bom no qual sentiu falta dos amigos. A busca pela perfeição num leito de hospital, à morte. A eterna busca pela perfeição. E se não encontrarmos a frase perfeita, quem saberá o que se passa dentro de nós? E a vida nos apressando, colocando pó nas coisas e rugas nos homens.

A vida não é algo que ganhamos, é algo que vamos perdendo. É algo que vem correndo atrás de nós, e a vida só existe dentro de nós. Não vamos encontrá-la por aí, na natureza, sem que alguém a esteja usando. E quem adivinhará toda a vida que corre debaixo de minha pele, permeando meus ossos, minha carne, tudo. E sei que deve acontecer isso com todos os outros nesse mundo, e não conseguimos encontrar a frase perfeita, enquanto a vida vem nos apressando. Há perfeição?

Então, de relance, vemos a perfeição num olhar, num abraço, num silencioso sorriso, num beijo... Somente então percebemos que não há palavras para aquilo. Nada que descreva, e que aquilo nunca mais vai acontecer novamente. É a perfeição visitando a gente, só por um momento, a contar que a vida é isso. E não se pode guardar a vida, nem com palavras. E, mesmo percebendo tudo isso, voltamos a procurar as palavras perfeitas, a frase perfeita. Fazemos isso porque somos homens, e somos cantores desse mundo, e procuramos a música perfeita do universo... Então pedimos para o flautista tocar mais uma vez, para voltarmos a procurar.


Para Sir Willian Blake