sábado, 5 de maio de 2012

Do incrivelmente pequeno ao infinitamente grande



                Aprendi a ler, lendo quadrinhos. Até os doze anos, minhas leituras se baseavam exclusivamente em autores como John Byrne ou Marv Wolfman. Quando, finalmente li um livro, no sentido mais assertivo da palavra, não foi por uma indicação escolar ou pelas recomendações de uma boa professora que me sugerisse um Machado de Assis ou um José de Alencar, fui por minha conta até uma biblioteca e, sem nenhum método reconhecível, mesmo hoje, quando penso retrospectivamente, mergulhei por entre as estantes de literatura cheias de livros velhos e pouco atraentes e descobri o amor táctil pelo livro material. O único rumo que me guiava era a chamada ficção científica, afinal, era o gênero mais próximo da literatura ricamente ilustrada por artistas pop que me educara até então. Submergi sem método entre as estantes e, quando voltei à tona, trazia dois livros de Isaac Asimov.

                Credito o erro que cometi à minha pouca experiência, mas o fato é que um dos livros que escolhi não era literatura, mas sim uma obra de divulgação de Cosmologia – hoje eu sei que isso também é literatura. Era um livro pequeno, objetivo, agradável, que absorveu com exclusividade dois dias da minha vida. Asimov me apresentou ao universo do que gosto de chamar de Incrivelmente pequeno ao infinitamente grande. Já teve a impressão de que, com os olhos abertos, abrisse novos olhos sobre os velhos? Pois foi assim mesmo, uma nova cortina foi aberta no manto do mundo. Senti-me mais próximo da ciência, e é assim que eu me sinto até hoje. Não que eu a entenda tão bem assim, mas apenas sou apaixonado por ela como um religioso ama um deus qualquer. Amo a Ciência com o mesmo amor com que meus antigos autores a amavam ao inventar suas fantasias em quadrinhos. Era exatamente aquele amor que os amantes devotavam à Lua antes de 1969, antes do homem a conhecer melhor.

                O universo. Esse é o nome do meu primeiro livro que li. Gosto do tamanho do universo, dessa coisa de ser infinito e limitado, mas confesso que a idade dele me frustrou bastante: 15 bilhões de anos. Agora sei que é um pouco menos, mas ainda mantemos os nove zeros perfilados, e acho que foi essa quantidade tão pequena de zeros, essa porção tão mensurável de tempo, que me decepcionou bastante. Eu esperava alguma coisa mais próxima do infinito.

                Uma das últimas frases do filme Bravura Indômita é Um quarto de século é muito tempo. Sim, vinte e cinco anos são mesmo muito tempo, principalmente no século XIX, quando era necessária alguma sorte para se passar dos quarenta, mas não posso deixar de pensar na decepção que a juventude do universo me causou. Vinte e cinco anos é muito tempo, acho que o universo deve ter olhado para baixo com alguma inveja, agora.

6 comentários:

AlrishA disse...

Mais que o choque que tive com a pouca idade do universo, foi descobrir o quanto a Ciência ignora a sua vida, que pulsa... ou pior: fechar os olhos para isso.

Isso me lembra um livro: "As estrelas são belas por conta de uma flor que não se vê."

Tarlei Melo disse...

Todo o universo cabe dentro de uma gota de orvalho.

AlrishA disse...

E onde fica a conservação de energia? xD

Tarlei Melo disse...

Se a massa for mantida, a energia está conservada. ;)

Mas claro que não foi isso que quis dizer, né! :p

AlrishA disse...

Se a massa é a mesma, ela se condensa, a energia é outra... muito maior.

AlrishA disse...

Eu sei que você não estava falando nisso, rsrs. Mas sim... quando a gente acorda, o universo cabe todo dentro de uma gota de orvalho... tudo está cheio até a borda.