Aprendi a ler,
lendo quadrinhos. Até os doze anos, minhas leituras se baseavam exclusivamente
em autores como John Byrne ou Marv Wolfman. Quando, finalmente li um livro, no
sentido mais assertivo da palavra, não foi por uma indicação escolar ou pelas
recomendações de uma boa professora que me sugerisse um Machado de Assis ou um
José de Alencar, fui por minha conta até uma biblioteca e, sem nenhum método
reconhecível, mesmo hoje, quando penso retrospectivamente, mergulhei por entre
as estantes de literatura cheias de livros velhos e pouco atraentes e descobri
o amor táctil pelo livro material. O único rumo que me guiava era a chamada
ficção científica, afinal, era o gênero mais próximo da literatura ricamente
ilustrada por artistas pop que me educara até então. Submergi sem método entre
as estantes e, quando voltei à tona, trazia dois livros de Isaac Asimov.
Credito o erro
que cometi à minha pouca experiência, mas o fato é que um dos livros que
escolhi não era literatura, mas sim uma obra de divulgação de Cosmologia – hoje
eu sei que isso também é literatura. Era um livro pequeno, objetivo, agradável,
que absorveu com exclusividade dois dias da minha vida. Asimov me apresentou ao
universo do que gosto de chamar de Incrivelmente pequeno ao infinitamente
grande. Já teve a impressão de que, com os olhos abertos, abrisse novos olhos
sobre os velhos? Pois foi assim mesmo, uma nova cortina foi aberta no manto do
mundo. Senti-me mais próximo da ciência, e é assim que eu me sinto até hoje.
Não que eu a entenda tão bem assim, mas apenas sou apaixonado por ela como um
religioso ama um deus qualquer. Amo a Ciência com o mesmo amor com que meus
antigos autores a amavam ao inventar suas fantasias em quadrinhos. Era exatamente
aquele amor que os amantes devotavam à Lua antes de 1969, antes do homem a
conhecer melhor.
O universo. Esse
é o nome do meu primeiro livro que li. Gosto do tamanho do universo, dessa
coisa de ser infinito e limitado, mas confesso que a idade dele me frustrou
bastante: 15 bilhões de anos. Agora sei que é um pouco menos, mas ainda
mantemos os nove zeros perfilados, e acho que foi essa quantidade tão pequena
de zeros, essa porção tão mensurável de tempo, que me decepcionou bastante. Eu
esperava alguma coisa mais próxima do infinito.
Uma das últimas
frases do filme Bravura Indômita é Um quarto de século é muito tempo. Sim,
vinte e cinco anos são mesmo muito tempo, principalmente no século XIX, quando
era necessária alguma sorte para se passar dos quarenta, mas não posso deixar
de pensar na decepção que a juventude do universo me causou. Vinte e cinco anos
é muito tempo, acho que o universo deve ter olhado para baixo com alguma
inveja, agora.
6 comentários:
Mais que o choque que tive com a pouca idade do universo, foi descobrir o quanto a Ciência ignora a sua vida, que pulsa... ou pior: fechar os olhos para isso.
Isso me lembra um livro: "As estrelas são belas por conta de uma flor que não se vê."
Todo o universo cabe dentro de uma gota de orvalho.
E onde fica a conservação de energia? xD
Se a massa for mantida, a energia está conservada. ;)
Mas claro que não foi isso que quis dizer, né! :p
Se a massa é a mesma, ela se condensa, a energia é outra... muito maior.
Eu sei que você não estava falando nisso, rsrs. Mas sim... quando a gente acorda, o universo cabe todo dentro de uma gota de orvalho... tudo está cheio até a borda.
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