sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Algum acordo
Era nobre como ouro
e com ouro se vestia.
Éramos ambos
amo e dominado.

Asas tínhamos:
ele anjo e eu mosquito.
Amantes, sou desnecessário
fora dele.

Febris, doentes, vampiros
a luz do sol nos abatia.
Suados, cegos pela casa,
ele é mais belo do que eu.

Se me tem a ferros
quando quero fugir
empunho o punhal
sou assassino.

Desfigurado - sem ninguém
saber quem sou
Escondo-me nas trevas
(acho que esbarro em alguém).


Ao chocar nossas faces
queria comer, beber,
chego a sonhar com
a impermeabilidade do seu corpo.

Brigamos usando nossas
partes vertebrais;
em meu turno, eu durmo
concordando com a noite.

Dói, meu joelho machucado
não quer sarar
nem meu ombro quebrado
em outra encarnação.

A dor que vai além disso.
A culpa do não sei o quê.
Suas asas se desprendem
do seu corpo, na cama.

O corpo esculpido, desmaiado
sobre o meu, salgado. Recuso
os movimentos. Imóvel, não
quero acordá-lo.

Amo-o.

Poesia escrita em algum dia de 1988. Algum papel velho, portanto.

Nenhum comentário: