terça-feira, 29 de maio de 2012

Todo o universo numa gota


                


                       Talvez tenha uma música tocando.

                Uma gota que despenca da torneira denuncia um fragmento infinitésimo da música eternal que vem escorrendo desde o início, há bilhões de anos, dando vazão à perenidade desde antes, até depois. Tudo que aconteceu, aconteceu antes de mim. Quero vê-lo, esse tudo que se passou.

                Um universo inteiro musical, contínuo; umas vidas que se emendam. Não só a vida do meu avô conectando-se à do meu pai, que se emendou à minha, que se emendará, no povir, quem sabe, ao meu filho, mas todos emendados como uvas a um cordão umbilical comum, um cordão umbilical comum, universal.

                A música pode ser ouvida, com atenção, na gota que se desprende da torneira sobre a louça que ainda não foi lavada, e se despede, apenas para afinar nossos ouvidos. A gota diapasão da vida. É uma gota que prenuncia o futuro: a casa nova, os números da loteria de amanhã à tarde, o pai que ainda não morreu, a Lua se separando da Terra lentamente.

                Silêncio. O futuro é sólido, e tudo já aconteceu.

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