Talvez tenha uma música tocando.
Uma gota que
despenca da torneira denuncia um fragmento infinitésimo da música eternal que
vem escorrendo desde o início, há bilhões de anos, dando vazão à perenidade
desde antes, até depois. Tudo que aconteceu, aconteceu antes de mim. Quero vê-lo,
esse tudo que se passou.
Um universo
inteiro musical, contínuo; umas vidas que se emendam. Não só a vida do meu avô conectando-se
à do meu pai, que se emendou à minha, que se emendará, no povir, quem sabe, ao
meu filho, mas todos emendados como uvas a um cordão umbilical comum, um cordão
umbilical comum, universal.
A música pode ser
ouvida, com atenção, na gota que se desprende da torneira sobre a louça que
ainda não foi lavada, e se despede, apenas para afinar nossos ouvidos. A gota
diapasão da vida. É uma gota que prenuncia o futuro: a casa nova, os números da
loteria de amanhã à tarde, o pai que ainda não morreu, a Lua se separando da
Terra lentamente.
Silêncio. O
futuro é sólido, e tudo já aconteceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário